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ENSAIOS

de escrita, culinária, economia e finanças, bem-estar e reflexões sobre parentalidade

A dieta para 2025

  • Foto do escritor: Juliana Machado
    Juliana Machado
  • 22 de jan.
  • 8 min de leitura

Eu tenho a dieta definitiva para 2025 e posso provar.



Quando o Bolsonaro foi eleito e assumiu a Presidência da República em 2018, eu achei que devia me engajar mais politicamente, nem que fosse pelas redes sociais. Entrei nas mais populares da época, passei a seguir todos os parlamentares do meu estado de origem, do meu cep atual, aqueles de relevância nacional, além do Presidente, é claro, governadores, alguns ministros e por aí vai. Seguia também vários jornalistas, meios de comunicação de diversos matizes, influenciadores, professores.

Nessa época, Cecília com um pouco mais de 1 ano, eu já seguia muitos educadores parentais e minhas leituras de livros praticamente se resumiam a esse universo novo que se abriu para mim com a maternidade.

Contribuiu para esse consumismo em excesso de informações a minha entrada no teletrabalho, o que em 2019 já representava 3 dias da minha semana. Isso porque eu trabalhava com o canal de notícias ligado. O tempo todo.

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Quanto tempo durou isso? Não sei dizer.

Mas foi suficiente para me adoecer. Fiquei ansiosa, estressada, rabugenta. Não que eu não seja mais essas coisas, mas nessa época fui pior. E triste e desesperançosa...

Demorei para perceber que o excesso de notícias tinha relação com isso. Assim que percebi, resolvi mudar, com muito receio de ficar desinformada e ignorante, e que isso afetasse a minha vida e da minha família, mas fui fazendo minhas mudanças. Deixei de seguir diversos perfis, abandonei redes sociais, parei de assistir canais de notícias.

Sabe o que essa desinformação custou na minha vida pessoal? Absolutamente nada, zero alterações. Nem mesmo as conversas foram esvaziadas. Antes, quando me perguntavam “tá sabendo disso?” eu respondia um não meio envergonhado, mas a conversa fluía mesmo assim. Claro, as pessoas querem mesmo é falar. Hoje, eu digo logo um “não, menina, me conta!”.

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É verdade que essas coisas nunca são um processo linear, é mais um “ir aprendendo e ir fazendo e ir errando e ir refazendo”. Teve momentos que eu voltei ao consumo desenfreado de notícias, como na pandemia, e teve momentos que me senti desinformada demais, como em época de eleições. Tem momentos também que o algoritmo entende demais o que me diverte e perco horas olhando um nada composto de mil reels de bichos, bebês e k-pop. É a vida.

O que é diferente agora é que quando eu percebo que estou exagerando já modifico o comportamento logo em seguida. Nesse processo, eu me deparei com o termo “dieta da informação”. Já ouviu?

Pois é. Consiste em você considerar o seu consumo de informação igual você também considera a sua dieta alimentar.

O termo fico conhecido por causa do livro “a dieta da informação - uma defesa do consumo consciente”, escrito por Clay Johnson em 2012, mas ainda super atual. Tem gente que chama de dieta da comunicação, dieta informacional, e por aí vai. Basicamente, tem relação com o número de informação que cada pessoa consome e a qualidade de cada um desses itens. 

Ele disse

“E ainda que estejamos programados para consumir – isso foi essencial para nossa sobrevivência –, nosso apetite irrestrito por informações já não nos ajuda mais. Surpreendentemente, também está nos matando.”
“Do mesmo modo que uma dieta pobre pode nos causar muitas doenças, uma dieta da informação pobre nos dá novas formas de ignorância – vindas não da falta de informação, mas de seu consumo excessivo e de doenças e ilusões que afetam não o indivíduo mal-informado, mas o super-informado e bem instruído”.

 

Então em tempos de Trump e fake news, pós-verdade, redes sociais e algoritmos, e criando duas meninas que viverão imersas na conectividade, acho que nada mais importante do que pensar direitinho em como serei informada e como consumirei informação.

Pensa só: eu tenho hoje acessível a mim um sem número de informações. Tipo o fluxo de uma timeline de rede social, que eu rolo, rolo e rolo e nunca acaba. O tempo todo. Todos os assuntos possíveis. Estão na palma da minha mão pelo meu celular, a um click de distância quando estou trabalhando no computador, na tela do streaming da TV. E parece que tenho que ter uma opinião sobre tudo, seja política, educação, BBB ou economia.

Segunda a pesquisa da We Are Social, o brasileiro gastou em média 9h32min na internet diariamente em 2023, o que é 45% superior à média global (6h37min).

E hoje tem ainda a inteligência artificial, que gera até vídeos e vozes conhecidas. Um perigo que ainda nem sei avaliar.

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Essa nova realidade gerou problemas para além das fakenews. Tem o FOMO (fear of missing out, medo de ficar de fora em tradução livre), tem a questão seríssima do viés de confirmação (quando o algoritmo entende o meu posicionamento sobre algum assunto e passa a me oferecer somente aquilo e de repente parece que o mundo todo pensa igual e não exercito o pensamento por óticas diferentes), o vício nas redes sociais (que desconecta do presencial e a gente desaprende a se relacionar olho no olho), tem também a superficialidade das informações instantâneas, porque ninguém mais tem paciência para assistir vídeos ou ler textos que demorem mais que um tiktok.

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Não fomos educados para esse excesso. Precisamos aprender com o barco em movimento. E rápido, antes que a gente se afogue nesse mar de informações disponíveis.

"Estamos nos afogando em informações, enquanto estamos famintos por sabedoria." (veja aqui o texto completo)

 

Historicamente, nos encontramos no seguinte momento: entre um aumento repentino no fluxo de informações e aguardando o desenvolvimento de ferramentas que possam nos permitir lidar melhor com elas. O problema do excesso de informação é que ainda precisamos desenvolver técnicas poderosas o suficiente para nos ajudar a navegar nesse dilúvio de dados digitais. (texto completo aqui)

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Por isso é que afirmo que em 2025 a dieta definitiva não é a da balança (mesmo que a gente não possa esquecer dela também), mas sim a da informação que a gente consome.

A proposta do livro, e do termo cunhado, é que cada um considere o seu consumo de informação e faça escolhas conscientes. Assim, eu amo pastel de feira, mas eu não posso consumir aquela quantidade de carboidrato imersa em óleo sabe Deus a origem, todo dia, né?

“Nós precisamos ter a habilidade de pensar criticamente sobre a informação que recebemos e usar as melhores ferramentas para processar informação de forma efetiva. A internet é a grande criadora de ignorância que a humanidade já criou, assim como é a grande eliminadora dessa ignorância. É a nossa capacidade de filtrar que elimina a primeira e empodera a última”. (Clay Johnson)

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Você tem uma dieta de informação balanceada? Você checa a qualidade daquilo que você consome? E esses itens te fazem realmente bem? São perguntas que deveríamos fazer cada vez mais não só sobre o que ingerimos pela alimentação, como também daquilo que consumimos com nossas mentes.

Uma boa dieta deveria proporcionar o consumo variado de informações, de fontes confiáveis, evitar excessos e ter um objetivo próprio, seja notícia, estudo, podcast, programa de TV. Como diria o Bruno Machado nesse artigo aqui,


Ao consumir conteúdo, devemos então procurar produtores confiáveis (fontes de conteúdo confiáveis), evitar a concentração de um mesmo tipo de alimento (viés de confirmação), equilibrar nutrientes (ler diferentes perspectivas) e evitar excessos (síndrome de FOMO). Assim como nossa saúde é influenciada pelo que comemos, nossa opinião sobre temas é influenciada pelo que consumimos de informação.
E este consumo, em boa medida, nos é recomendado pelos algoritmos utilizados nas plataformas digitais, que monetizam a partir de nosso engajamento. Entenda engajamento neste contexto como o tempo que consumimos o conteúdo nessas plataformas e a partir disso realizamos compras, como bem descrito na série The Social Dilemma.

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Então eis aqui como eu me organizei para 2025:

1: Tempo de me informar ou de estudar não é entretenimento. As fontes são diferentes e eu tenho clareza disso e procuro não misturar os tempos (falho com frequência nessa parte, mas sigo tentando).

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2. O tempo de entretenimento nas telas com redes sociais foi reduzido e substituído por outros entretenimentos (mas eu sou mãe, entretenimento pensando só em mim é luxo, nem sei se conta).

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3. Em termos de notícias, dou preferência a artigos robustos ao invés de notícias rápidas e sem contexto. Logo, não acompanho mais canais de notícias 24h – eles em regra não têm condições de me fornecer material mais complexo e que me permitam refletir junto. Se eu consumir sempre notícias com a reflexão já pronta, eu preciso confiar demais na fonte e desaprendo o processo de reflexão. Não dá.

Eu assino duas newsletters: a do Meio e a da Revista Piauí, essa aqui na versão gratuita, porque entendi que, por mais que o material seja primoroso, não consigo acompanhar tudo, mas ouço o Foro de Teresina. Elas concentram textos e artigos diversos sobre as questões mais importantes da semana.

Nas redes sociais sigo perfis diversos de jornalistas e revistas/jornais/canais de informação, todos nessa mesma linha, e quando um assunto me interessa, vou atrás do texto completo.

No Substack, tem 2 perfis que fazem um trabalho genial relativo a informações porque fazem a seleção e o resumo das notícias mais importantes e indicam fontes confiáveis. É o Brasil de Direitos e a Brasis.

E tem também o projeto brief, que faz análise fundamentais nos dias de hoje. É deles a citação abaixo:

“É importante a gente entender que a desinformação vai muito além das fake news. Se são as mentiras que viralizam num primeiro momento, logo as narrativas e linhas políticas reorganizam os fatos para, no fim das contas, desacreditar as instituições e a democracia que gera alcance, likes, engajamento, voto e lucro.”

Acho fundamental fazer uso de serviços assim, porque vamos combinar que nenhum de nós tem, isoladamente, tempo de fazer essa curadoria de notícias e informações relevantes, né?

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4. No entretenimento, busco pontos de vista diferentes. Vejo séries de vários países diferentes (sim, Coréia do Sul principalmente, mas não só), faço questão de seguir perfis nas redes sociais de pessoas engajadas em pautas parecidas com as minhas, silencio ou excluo perfis que não me acrescentam nada, e limito o tempo. E fechei quase todas as redes sociais que tinha.

E me prometi ler mais livros esse ano. Venho numa saga de aumentar meu índice de leitura. Sempre li muito, mas na vida adulta mais recente isso se perdeu um pouco. E onde não perdi, me limitei nos assuntos. Então fiz uma lista de assuntos que me interessam e que livros li sobre cada um - assim fico mais consciente de quando e onde preciso diversificar mais. 

Em 2024 li muitas newsletters e foi bom. Preciso só achar um equilíbrio.

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5. Ouço muitos podcasts, muitos mesmo, de diversos temas. Não tenho mais pressa em ouvi-los, até gosto de ouvir atrasado porque a perspectiva fica diferente e não me gera ansiedade. Ouço sobretudo para diversificar meu consumo de informação. Aqui é que normalmente ouço sobre maternidade, educação, tecnologia, música, história etc. A plataforma preferida é a B9, mas não é a única.

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E é essa a minha dieta definitiva para 2025. Qual é a sua?

Tem dicas do que consumir? Me fala.

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Obs. 1: A proposta é para 2025 porque, claro, como acontece com a alimentação, quando o nosso objetivo ou contexto muda, adaptações são necessárias.

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Obs. 2: Sobre os livros, fui impactada por uma tradição criada na família da minha irmã que é o seguinte: nas férias, cada membro da família escolhe um autor clássico de literatura e, em seguida, um livro. A pessoa lê esse livro e depois há um rodízio dos livros que cada um escolheu. Eles são 4 na família, a depender do tempo de férias acho que não rola o rodízio completo, mas achei genial para acessar o conteúdo sob o ponto de vista dos outros. Tenho feito isso com a Netflix do marido também.

 

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