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ENSAIOS

de escrita, culinária, economia e finanças, bem-estar e reflexões sobre parentalidade

Quando um miojo cai bem

  • Foto do escritor: Juliana Machado
    Juliana Machado
  • 4 de jul.
  • 6 min de leitura

Ou num dia desses qualquer


 

Dia desses, num almoço de família, estava eu estava contando mais uma saga minha no campo da maternidade. Sim, às vezes eu me exibo. #quemnunca

Dizia eu aos ouvintes que minhas meninas haviam adquirido o hábito de comer macarrão instantâneo (pode ser esse cujo nome dá o título deste texto, mas pode ser qualquer um desse tipo, tanto faz) e eu queria que elas parassem de comer essa modalidade de massa e precisava achar um substituto à altura.

A ideia era mostrar, para as minhas meninas e para os ouvintes, que quase sempre dá para comer comida boa e saudável, que agrade o paladar das crianças, e que eu posso prover a elas aquilo que elas gostam sem furar nossas regras alimentares. Isso porque depois de muitas pesquisas eu achei um bom substituto e havia emplacado ele aqui em casa.

Mas não consegui avançar no assunto...

A prima querida me olhou assustada, olhos arregalados no momento em que mencionei a marca inimiga. Balançando a cabeça negativamente, ela disse: “Jamais esperei ouvir isso de você... de você, nunca.” E balançava a cabeça, entre surpresa e decepcionada.

Isso, claro, foi o que eu vi. Se você perguntar para ela ou para os demais, a resposta pode ser bem outra.

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Aquilo me abalou mais do que eu gostaria de admitir.

Fragilidade minha? Claro e sempre.

Naquele um átimo de segundo veio primeiro a punhalada maior no peito: eu não estava oferecendo alimentação de qualidade para as minhas meninas. Seria eu uma fraude, que prega alimentação mais natural mas não faz, ou uma relapsa, que diz que faz mas no dia a dia é bem diferente? Talvez ambos e quem paga o pato são elas, eu desnutri as minhas filhas...

Em seguida, no entanto, eu me perguntei por que ela teria feito aquele comentário/cobrança?

Ela é uma querida e alguém com quem eu tenho muita coisa em comum, inclusive reflexões sobre alimentação. Com certeza não foi para me magoar ou diminuir, talvez bem ao contrário. Acredito mesmo que ela queria era me enaltecer, reconhecendo que aquele produto industrializado ao extremo não tinha a ver comigo e que ela reconhecia em mim um outro valor.

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Ela pode não ter feito isso consciente, mas aquilo foi uma cobrança e um julgamento a meu respeito e ao meu maternar. Ela não tem filhos e talvez isso explique um pouco a aridez do comentário. A mania que temos, todos nós, de taxar e encaixotar as pessoas em estereótipos deve explicar um outro tanto – ela me tinha na caixinha das mães que fazem tudo certinho e quando viu algo em mim que não se encaixou nisso, teve um estranhamento.

Eu penso, talvez porque isso aconteceu bem próximo do dia das mães, que a perfeição que exigem de nós mulheres vem também nessas pequenas coisas. Um comentário até elogioso às vezes gera apenas mais pressão por esse lugar inalcançável da mulher e, mais ainda, da mãe perfeita. Digo mais ainda da mãe perfeita porque, claro, nenhuma mãe quer de jeito nenhum sentir que falha com os filhos e que eles sofrem com isso.

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Imaginei então que aquela cobrança teria mais relação com ela e com os processos dela do que comigo. Só que isso também não é a verdade total – eu me senti cobrada, obviamente isso tem relação comigo sim e com as minhas inseguranças.

A necessidade de me sentir aprovada pelas filhas, marido, família, amigos, é real. É ela quem traz a culpa e a cobrança com peso tamanho.

Porque, de outro modo, eu pensaria logo que eu provejo sim uma alimentação saudável, nutritiva, diversa para minhas meninas. Todo dia em casa tem comida caseira, com todos os grupos alimentares, com muitas cores e sabores. Tem frutas, legumes, carboidratos complexos e todas essas coisas. E tem consciência e prática também, porque ensinamos a elas a refletirem sobre as escolhas, explicamos as nossas, além de elas serem presenças constantes na cozinha do meu lado desde muito cedo.

Não falo isso aqui para me exibir, mas talvez para ter consciência eu também do caminho que já trilhamos.

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Para ser mais honesta ainda, se eu pensar bem, eu não fico falando da alimentação das meninas ou das rotinas daqui de casa. Sempre receio passar por exibida ou de quem está ditando regras. Deus me livre esse papel.

Eu falo, isso talvez sim com mais frequência, da minha alimentação e das agruras das minhas alergias e outras questões. É uma parte gigante da minha vida, das minhas buscas e dos meus caminhos. Acho natural até que eu fale bastante, mas costumo falar apenas quando um outro alguém coloca o assunto na mesa. E sempre tem alguém.

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Por fim acabei pensando que, se ela tinha aquela imagem de mim, essa era uma questão dela, eu não construí essa imagem. Então, se naquela conversa eu pude desfazer um pouco essa imagem, que bom para mim, para ela, para as minhas meninas e para todas nós.

A perfeição nos prende e não nos favorece em nenhum aspecto.

Claro que a alimentação saudável é muito importante e é um valor enorme no meu maternar. Mas sabe o que é mais valioso ainda? Ser humana, possível, factível e imperfeita. Não há exemplo maior que eu possa dar às minhas filhas.

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Para você, amiga leitora, amigo leitor, se ainda há alguma dúvida, eu esclareço: não sou uma mãe perfeita, nem mulher perfeita ou esposa perfeita e nenhuma outra categoria perfeita. Eu falho miseravelmente diariamente e, se tenho algum mérito, é o de começar tudo de novo no dia seguinte. Não tenho pretensão de alcançar a perfeição – ela foi feita para não ser alcançada e o sistema usa isso inteligentemente contra nós em todas as oportunidades, tão suscetíveis que somos a essas cobranças.

Para a prima querida eu respondi apenas “ah, prima... a vida diária atropela a gente...”

Não consegui dizer mais nada, nem dividi meu sucesso e nem a receita sensacional que havia encontrado. Me recolhi, reflexiva.

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Dias depois dividi a história com as mães amigas da escola das meninas. Ali, onde a sororidade reina plena, pude contar tudo, dividir louros da vitória e ouvir elogios pela minha trajetória e até pelo meu silêncio do momento. De quebra ouvi vários “ah, mas tem dias que só um miojo cai bem!”, seguido de vários “ninguém vai morrer por causa disso”.

Mas tive que prometer servir a receita no próximo almoço coletivo. =)

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Segundo 100% do meu público, essa receitinha fica até melhor que o industrializado.

A vida é assim, né? A gente tenta um monte e perde um bocado, mas quando a gente ganha... ah, aí a gente comemora e espalha! =)

 

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Obs. 1: O hábito recém adquirido e já limitado (porém não excluído, não tem milagre) foi aprendido com o pai, eu realmente não como macarrão instantâneo. Aliás, hoje em dia nem macarrão eu como - resistência ao glúten, divido a história em outro momento. Eu passo bem, fique tranquilo.

É que é regra de ouro aqui em casa que, se é ele quem está no controle da rotina no momento, eu não me meto e nem faço grandes exigências. E como minhas queridas amigas me lembraram, de vez em quando, que mal realmente tem?

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Obs. 2: Para quem se interessou, olha só a receita:

- Uma colher de sopa de temperos secos em pó (cebola, alho, páprica - eu comecei pela doce, mais suave, mas a defumada arrasa), mostarda e orégano;

Se for muito para você, comece só com cebola e alho, vai dar certo também.

- ½ colher de sopa de açafrão e 1/3 de pimenta preta moída (melhor a moída na hora, mas aceito bem a mais prática).

- Sal, claro, é sempre a gosto. Eu coloquei 1/3 colher de sopa.

Na medida que a gente vai testando, vai mudando ou acrescentando novos temperos secos cada vez um pouquinho. Adoro.

Mistura tudo e guarda num pote bem fechadinho. Dá para usar várias vezes.

Eu uso a mistura em vários preparos, não só no macarrão. Uma favorita é usar para temperar o azeite que vai para a mesa. Nossa mais velha ama. Então eu deixo assim.

Mas quando vou fazer o macarrão mesmo eu acrescento mais orégano e queijo ralado. Às vezes um pouco de molho de tomate.

Na frigideira, coloco um bom fio de azeite, aqueço e coloco mais ou menos uma colher de sopa da mistura. Acrescento o macarrão cabelo de anjo fervido por uns 2 minutos e deixo ali mais ou menos 2 minutos também. Se você gosta do caldinho, é só reservar uma concha da água da fervura e acrescentar nesse momento. Aqui o marido gosta do caldo, as filhas vão de sequinho mesmo.

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Fala sério se não é boa? Tenta você também e me diz o que acha.

E você? Tem seus truques para dar uma melhorada na alimentação? Me conta!

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