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ENSAIOS

de escrita, culinária, economia e finanças, bem-estar e reflexões sobre parentalidade

O mundo mudou

Foto do escritor: Juliana MachadoJuliana Machado

Cecília, 2017
Cecília, 2017

Eu não gosto de ir ao médico, evito o quanto posso. Mas aquela dor no ombro estava acabando comigo. Estava a ponto de me automedicar com remédios mais fortes quando uma vozinha que às vezes atende pelo nome de Marcelo me sussurrou: vai no médico, vê direito o que é isso...

Era profético, mas não captei.


Consegui uma consulta para dali uns dias. Fui, contrariada. Esperei horas a minha vez, entrei resistente e recebi aquele atendimento padronizado inespecífico. Fui honesta quanto à dor e quanto ao que eu queria: um remédio forte que acabasse com ela a jato. Breve exame físico, acompanhado das também padronizadas perguntas:

- Você faz exercícios físicos?

- Não.

- Trabalha no computador?

- O dia inteiro.

- Está grávida?

- Não.

- Mas... corre o risco?

- Bom, a minha menstruação está atrasada, mas isso é algo bem comum para mim.

- Nesse caso, por precaução, não posso passar nenhuma medicação. Mas passarei sessões de fisioterapia que já devem lhe trazer algum benefício. No seu retorno podemos avaliar uma medicação.


Saí enraivecida.

Passei na primeira farmácia que vi, peguei o relaxante muscular mais forte que reconheci e me dirigi ao caixa.

Mas, no caminho do caixa, a vozinha surgiu novamente na versão que atende por pulga atrás da orelha/anjo da guarda. Ali ao meu lado, naquele mesmo instante, estavam os exames de gravidez. Olhei, temerosa.


Mas a raiva é uma força tão grande que esse momento não demorou segundos. Peguei logo 2 exames e segui para o caixa. Que gravidez o que, pensei, vou confirmar logo isso e esse médico que me desculpe. Tomo o remédio hoje e acordo outra amanhã.

Acordar outra – profético também, não captado também.


Cheguei em casa, fiz o xixi e fui colocar roupa na máquina. E esqueci o pote na bancada do banheiro. O marido chegou, olhou aquilo e, sem contexto algum, ficou perdido e me perguntou: o que é isso aqui no banheiro?

Contei rapidamente, caminhando em sua direção. Ele não mexeu no pote e eu me aproximei, descrente total. É só uma segurança, fica tranquilo que não senti nada.


Puxei o exame e estavam ali as duas listras mais lindas da face da Terra. Ele me olhou, eu o olhei, nos abraçamos e choramos, emocionados.

- Vamos de novo?

- Vamos lá!


Foi transformador e realmente no dia seguinte eu era outra. Guardei a caixa do remédio, marquei consulta na obstetra, na nutricionista, no endócrino e mais vinte outras providências médicas das mil que uma grávida precisa tomar.


Ali a vida mudava, o mundo mudou definitivamente, para nós.

Aquele momento mágico em que 1+1=3...

Viva!!!

 

-----


Obs.: Nunca tomei o remédio, nem voltei no médico, nem fiz fisioterapia. O remédio ficou guardado na gaveta por anos e, numa arrumação recente, eu o vi ali, ainda com validade. Doei.


Obs. 2: Era a Cecília que vinha! A dor seguiu conosco, aumentou bastante durante a gravidez, desceu para a coluna e tal. Passou, ou eu não a registrei mais, assim que a pequena veio para o meu colo. Deus explica. Mas ainda volta de vez em quando.


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