
Levante a mão a mãe (ou o pai, claro) que nunca enfrentou dificuldades nas rotinas diárias em casa. Nunca vi dor maior que jantar direitinho ou exercício mais difícil que escovar os dentes. Colocar a roupa suja no cesto apropriado então, aff, tarefa impossível, tem espinhos. E não tem jeito: tem que fazer todo dia. Diria o Mandalorian: this is the way.
Cecília e Alice costumam dar trabalho mediano nessas atividades diárias, mas têm épocas que resolvem testar os limites do meu possível e aí, gente, aí a vida fica mais cinza... é um tal de daqui a pouco, eu não quero, está doendo (pode ser o fio dental ou a comida mesmo, rs), depois que fizer outra coisa, quando acabar meu programa, misturado com choro, reclamações, caretas e assim vai. Várias vezes ao dia, todos os dias.
Tem pouco tempo vivemos um período de crises desses.
Eu, cansada que nem sei mais em que limite, comecei a perder a paciência com esses pequenos embates diários e já não sabia mais a que técnica ou recurso recorrer. Nada que transparecesse muito por fora, mas por dentro eu sei que estava implodindo com as miudezas agulhentas do dia.
A diferença dessa vez é que a minha pequena de 5 anos estava também muito interessada em escrever, compreender o tempo, planejar o dia, fazer parte das decisões da casa. Aqui tem o mérito da escola, que estimula essa autonomia e o protagonismo da criança, mas tem também muito da própria Cecília, que sempre se interessou pela passagem do tempo e por entender as dinâmicas da casa e do dia.
Lembrei então daqueles quadros de rotinas para crianças. Tem vários modelos bacanas para comprar ou fazer na internet. Aqui em casa mesmo ele já foi sucesso mais de uma vez, seja com foto da própria Cecília desempenhando cada etapa da rotina, seja com listas desenhadas para orientá-la como proceder.
Porque não aproveitar esses interesses da minha menina e transformar isso em algo que nos ajude no dia a dia?, pensei eu.
Então sentei com elas (sim, Alice tem 3 anos e já tem voz ativa aqui, ai de nós se não a ouvirmos!) e fizemos juntas a lista de tarefas que temos que fazer todos os dias. Estava ali a frutinha, a mochila da escola, escovar os dentes, claro, remédios e assim vai. Na lista da maior, 11 itens; na da menor, 10 deles. Pensamos juntas as atividades que eram repetidas pela manhã e pela noite, falamos das horas. Cecília foi escrevendo e Alice desenhando.
Tentamos um primeiro formato, mas não deu certo. Tudo bem, filha, era um teste. Essas coisas acontecem.
Fui atrás de um novo formato e achei um que parecia simples e interessante para elas. Passei a lista que elas fizeram para o computador, com espaço para desenharem e escreverem as horas. Comprei pranchetas e pregadores de roupa bonitinhos. Elas pintaram o dia e a noite, Cecília escreveu no dela as horas em que cada atividade deveria ser feita. De quebra compramos um relógio digital desses de mesa e ela também está adorando entender a passagem do tempo. O pai plastificou as fichas e pronto. Passamos ao uso.

E não é que funcionou?
No início do dia colocamos todos os pregadores na ficha na prancheta, cada um relativo a uma atividade. Na medida em que vão fazendo, elas vão tirando os pregadores. Cecília tem dias que já se organiza antecipadamente. No fim do dia elas ficam orgulhosas de terem feito tudo ou refletimos juntas nas coisas que ficaram para trás.
Que baita aprendizado para todos! Organização, previsibilidade, planejamento. Funciona sempre? Claro que não, mas ajuda bastante naquilo que considero mais fundamental: a noção de responsabilidade e de participação na casa.
Mostrei para a minha mãe e ela gostou tanto que emendou um “estou precisando de um desses para mim”. Eu ri, mas no fundo pensei “eu também”.
E aí me peguei pensando porque eu não faço uma lista dessas para mim, uma que possa me orientar ao longo do dia, me ajudando no planejamento, na visão geral e na organização? É tanta coisa... será que vale a pena? Bom, se eu acho que vale a pena para elas, deveria tentar comigo também.
Que padrões usar, que regras seguir?
Será que faço por tipo de atividade e compromisso? Por exemplo, listar as atividades da casa, das meninas, o trabalho, a escrita, os estudos, o marido, a religião, os projetos, a família, os amigos e eu? Hum... talvez assim fique confuso do que priorizar ou organizar ao longo do dia...
E se eu separar, como no das meninas, por hora do dia? O que devo fazer pela manhã, por exemplo? Lavar, estender, recolher e guardar roupas, 3 refeições, limpeza da casa, dever de casa das crianças, tempo de qualidade com as crianças, banhos (meu e delas), organização para o trabalho? Bom, talvez eu não consiga encaixar tudo em horários certinhos, além de ter coisas que não faço necessariamente todo dia...
Talvez listar por prioridades funcione. De quebra já reflito também em como anda a quantidade de pratos que venho segurando. Confesso que se fosse fazer essa lista assim hoje, eu não saberia por onde começar, mas sei que às vezes o que é prioridade para mim é sugado pelas demandas dos demais ou some no meio das urgências de um dia a dia qualquer...
Que difícil organizar a vida...
Me perdi nessas múltiplas possibilidades e nesse enorme desafio que é achar alguma ordem no caos da vida. No entanto, alguma organização e planejamento há de ser útil para ter noção do todo e aproveitar melhor o tempo e as possibilidades. Afinal, não é isso que quero com o quadro de rotinas das crias?
Então, se não por mim talvez por elas, eu faça esse salto de fé e me organize. Quem sabe me vendo planejar e organizar, elas também percebam a importância desses passos e de quebra aprendam a dizer uns nãos pelo caminho, para que a lista delas não fique caótica como a minha?
Já pensou que revolucionário seria?
Ah, maternidade, lá vem você mexendo comigo de novo, me revirando por dentro e me fazendo ir adiante por causa delas!!!
Moço, por favor, me veja aí uma prancheta de metro porque tenho um quadro de rotina para fazer já! E me veja também uns adesivos e canetas coloridas porque, enfim, sou dessas.

E por aí? Rola alguma organização, listinha? Ou é na base da memória e do post-it? Me conta!
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