Papai cantava pra gente quase todas as noites na hora de dormir. Era meio que um ritual. Ir para a rede com ele, ouvir músicas da Jovem Guarda, embalar um pouco e ir para a cama dormir. Sei muitas músicas daquela época por conta desses momentos cheios de ternura.
Quando, no auge da adolescência, “Samba, Juliana” se tornou um hit e minha vida ficou mais dura, me apeguei a essas memórias para ter esperança.
Afinal, meu pai cantava para mim uma música linda “Juliana, Juliana... sorriso de menina, olhos de mar”... e a lembrança dessa música linda cantada cheia de carinho me dava forças para aguentar a poesia dos novos tempos...
Até que comentei com uma amiga querida Luciana essa história e ela fez uma grande revelação, que abalou o meu mundo. Não era Juliana a moça da música, era Luciana. E ela sabia disso, claro, porque o pai dela também cantava para ela. Arrasada, duvidei, questionei, confirmei. Fui falar com meu pai, cobrar satisfação, colocá-lo contra a parece mesmo. Ele riu.
Fiquei de novo só com “Samba, Juliana”. E segui a vida, sempre mais dura no carnaval.
Registro isso não com tristeza, mas na verdade para agradecer ao meu pai pelas pequenas inverdades cantadas ou faladas (sei que no seu coração, Betoca, a música era mesmo Juliana) e para dizer às Jenifers, Ana Júlias, Gabrielas e similares que aguentem firme e tenham esperança. Nunca passa de verdade, mas melhora com o tempo.
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Obs. 1: Em regra não, a Juliana não quer mesmo sambar.
Obs. 2: Sim, eu sei que tem uma nova música com meu nome, é a razão de eu ter resgatado este velho post. Todo carnaval o assunto surge.
Obs. 3: O texto não se aplica às Micheles. Vocês têm os Beatles, tá bom demais. Cecília também tem a música dela, um arraso aliás. Ela ama.
Obs. 4: Minha mãe também cantava para nós. Ela leu o texto e ficou sentida porque sempre falamos só do papai. É que a minha maior lembrança da mamãe era que ela deitava conosco, nosso chamego noturno. Mas ela cantava sim. Mãe, te amo.
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