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ENSAIOS

de escrita, culinária, economia e finanças, bem-estar e reflexões sobre parentalidade

O sumiço de Lililane

  • Foto do escritor: Juliana Machado
    Juliana Machado
  • 3 de fev.
  • 2 min de leitura
Arquivo pessoal - 2020 (ou 2021?)
Arquivo pessoal - 2020 (ou 2021?)

O passeio no shopping ia bem. Já tínhamos andado bastante, pesquisado os itens que queríamos ver, brincado e estávamos terminando um sorvetinho. As duas crias estavam animadíssimas, mas percebíamos que a validade do bom humor estava expirando (ou o delas ou o nosso!) e começamos a arrumar tudo para ir embora.


De repente, recolhendo os itens espalhados pela mesa e carrinho, tomei um susto. Onde estava Lililane? Nervosa, olhei para o marido e sussurrei, para que as crianças não ouvissem: onde está a Lililane? Ele arregalou os olhos, observou em volta e respondeu:

- Viu no carrinho?

- Não está. Olha embaixo da mesa!

- Não está também. Na sua bolsa?

- Não, eu tirei de lá na loja. E agora, meu Deus?


Buscávamos disfarçar o desespero que ia brotando, enquanto olhávamos pela vigésima vez tudo ao nosso redor. As crianças brincavam inocentemente ali ao lado, sem saber o que ocorria.

- Você lembra a última vez que a viu?

- Acho que eu lembro dela naquela loja que olhamos os pijamas.

- Meu Deus, será que a perdemos? Como Cecília ficará?

- Não quero nem pensar nisso. Vou correr lá.

Nervosismo define.


Pausa para explicar que Lililane é a boneca favorita da Cecília. É com ela que ela faz a sua brincadeira preferida: brincar de família com o papai. Sim, na minha casa quem brinca de casinha é o pai, não a mãe. Eu fui vetada, mas isso é assunto para outra memória. Mas na brincadeira, a Cecília é a rainha Lililane, a boneca é a princesa Lililane e o papai é o querido dela, o rei. E você precisa ver o carinho dela com a boneca! Cecília tem várias bonecas, mas só brinca mesmo com essa. E todos os dias.


Então o sumiço dela era um caso sério mesmo para o equilíbrio familiar. Só quem viveu, sabe!


Corri para a loja e, no caminho, achei que era melhor explicar logo para a Cecília: Filha, não sei onde a Lililane está... Vamos voltar naquela loja para ver se a mamãe a deixou lá, tudo bem?

- Mamãe, você guardou ela na sua bolsa!

- Não, minha filha. Isso foi antes.

- Ah meu Deus, onde estará a minha filha? Sozinha, coitadinha!

E se enrolou toda em si mesma no carrinho...

Senti um aperto no coração.


Cheguei esbaforida na loja e fui logo dizendo: deixei aqui uma boneca? Sim, a senhora deixou! Corremos para procurar vocês, mas não os vimos mais.

Um respiro aliviado!

A moça foi buscá-la e entregou nas mãos da Cecília. Diga obrigada, filha! Não adiantava mais. Como boa mãe, Cecília já estava agarrada na filha boneca, enchendo-a de carinhos e beijinhos. E eu enfim relaxei.

 

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Obs.1: Sim, como o saudoso Louro José, Lililane já ganhou vida própria aqui em casa e é sempre chamada pelo nome próprio. Mas só ela, as outras não. Aliás, as outras nem têm nome. E antes que você pergunte, eu não sei de onde ele veio.


Obs. 2: Texto escrito em 2021. De lá para cá, muita coisa mudou. Alice por exemplo tem várias bonecas, dá nome a todas e aí de mim que erre. Mas elas continuam brincando de casinha com o pai. Tem coisas que não mudam, que bom.

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