- Café?
- Sim, obrigada.
- Açúcar ou adoçante?
- Sem nada, por favor.
- Certeza?
- Sim, pode deixar.
E seguem os olhares desconfiados ou de pena, como se tomar café amargo fosse uma dor ou pesar. De amarga basta a vida!, dizem eles.
Eu rio, quase sempre. Porque eu não tomo café amargo, eu tomo café sem açúcar – é diferente.
É que houve um tempo na minha vida que eu tomava muito café, mas muito mesmo. Daquelas que não vê utilidade em ter um copo ou xícara distinto para o café – serve no de água ou de chá mesmo, e serve várias vezes! O limite era a dor no estômago. Quando ela aparecia eu sabia que a hora de parar já tinha passado.
Mas eu não desfrutava dele, eu só bebia mesmo, no vício e associado ao trabalho. E tanto fazia o pó usado, às vezes mesmo o modo de fazer não importava e até instantâneo servia. Eu só tomava, e muito, e todo dia.
Uma vez, conversando com os colegas do trabalho, surgiu esse assunto do café. Não era raro falarmos disso, já que tínhamos uma colega cujo pai era exportador de grãos – essa história rende outro texto, deixa para depois.
Mas foi nessa conversa que eu lembro de ter me tocado talvez pela primeira vez que eu me fazia um mal danado tomando tanto café não apenas pela cafeína mas também pelo muito açúcar que eu acabava consumindo junto. Então uma colega que tomava café sem açúcar e provavelmente também estava acostumada aos olhares dirigidos a ela, me disse: café sem açúcar é muito melhor, tem muito mais sabor. Mas o cérebro precisa mais ou menos de duas semanas para se readaptar. Tenta!
Intimada e instigada assim eu fui investigar e não é que é mais ou menos assim mesmo? Por questões cerebrais que eu não me atreverei a tentar explicar, o cérebro precisa de um tempo do novo comportamento ou sabor para se reacostumar e se reprogramar. Então, no caso do meu cafezinho, se eu suportasse duas semanas mais ou menos, o resto seria fichinha. A colega ainda me disse: vai por mim, nunca mais você vai querer colocar açúcar no seu café e em outras bebidas também.
Descrente, eu me programei. Não sou muito de datas certas ou místicas ou coisa assim, mas a virada do ano estava se aproximando e eu pensei: por que não? Dia 1º eu começo. Foi com a promessa já feita que lembrei que passaria a virada do ano em viagem, com o marido e a sogra. Puts! Teria plateia para me ver falindo ou suportando os primeiros passos – no caso, goles. Que peso! Rs
Mas ali, diante da plateia constituída em testemunhas, no dia 1º de janeiro de 2015, eu pedi de manhã cedo meu primeiro café sem açúcar no hotel que estávamos. Só temos expresso, disse o moço. Amigooooo, facilita para mim!!!, pensei, algo desesperada. Suspirei fundo e, olhares ansiosos e um tanto descrentes do público, me mantive firme. Pode vir o expresso.
E foi assim que começou uma nova etapa da minha vida com relação à minha alimentação e ao meu corpo. É que aquele café desceu amargo e meio, não foi gostoso nem agradável. Mas o que se sucedeu após foi incrível!
Nos dias que se seguiram eu passei a saborear mais o café, sentir aromas, diferenças entre pós, processos e até na origem ou marca. Tanto que, quando já depois de um bom tempo tomando o café desse jeito, eu sem querer tomei novamente com açúcar e, sem exagero, quase cuspi de tão ruim – parecia que tinha sabão no meu café.
Aquilo foi um sinal. Eu entendi melhor como funcionam os aditivos de sabor nas comidas, como eles viciam o nosso paladar e como, se você der a chance, o corpo se reprograma e reaprende. E eu passei a escolher meus cafés, que não são mais amargos, juro, e a desfrutá-los. Ainda tomo café na rotina do trabalho, mas hoje ele tem um espaço de desfrute, de conversa, de tempo bom.
Depois disso, eu que já não tomava mais refrigerante, parei também de adoçar além dos cafés, os leites, sucos, mesmo de limão, e chás. Confesso que os chás foram a parte mais difícil, até pelo hábito de colocar mel – o que ainda faço eventualmente e sem culpa. Passei também a diminuir o sal e qualquer aditivo que me impeça de sentir o verdadeiro sabor do que estou consumindo. E tem sido uma agradável descoberta e uma incrível jornada!
Não é que eu não goste mais de doces, veja bem, estou longe disso aliás. É que quando quero beber algo doce, eu bebo suco de manga ou de maçã, por exemplo, que já são naturalmente doces mesmo. Ou junto do meu café eu peço um docinho para comer. Não preciso mascarar aquilo que em essência tem outra espécie de sabor mesmo.
Já te contei da saga do maracujá? Não?
Mas eu te conto outra hora. É só me chamar para um café! =)
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Obs.: Eu sei a data certinha não é por causa do café, mas da viagem e dos colegas incríveis de trabalho que eu tinha conhecido havia bem pouco tempo. Nunca é só a comida/bebida, né?
Obs. 2: Não coloco açúcar no meu café, mas gosto da colherzinha. Sou discípula do Sr. Eduardo, que dizia que nem mosquito gostava de água parada, avalie ele e o seu café! Que saudade...
Obs. 3: Eu ainda tomo café, e bastante. Prefiro feito na cafeteira italiana, mas aceito quase todos os modos, quente mas não pelando, acompanhado de um docinho e água com gás, a depender do momento. Com um pouquinho de canela fica um arraso. Melhor que isso só se for em boa companhia, porque aí não é mais só o café - é a experiência! =)
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